Introdução
Há muitos anos atrás os sábios se perguntavam por que alguns objetos trazem uma sensação agradável mental, ou felicidade, e outros não, por que um mesmo objeto traz felicidade para uma pessoa e para outra não, além disso, por que alguns fatos nos trazem paz e outros não. E ainda, por que essa coisa chamada felicidade ou paz, que os objetos e fatos nos trazem, é tão passageira? Há algum objeto que pode trazer felicidade e paz de forma permanente para qualquer ser independente de sua natureza?
Há muitos anos atrás os sábios se perguntavam por que alguns objetos trazem uma sensação agradável mental, ou felicidade, e outros não, por que um mesmo objeto traz felicidade para uma pessoa e para outra não, além disso, por que alguns fatos nos trazem paz e outros não. E ainda, por que essa coisa chamada felicidade ou paz, que os objetos e fatos nos trazem, é tão passageira? Há algum objeto que pode trazer felicidade e paz de forma permanente para qualquer ser independente de sua natureza?
A busca por um objeto que
satisfizesse as condições, permanência e absoluto, ou seja, esse objeto
realizaria plenamente e satisfaria totalmente a qualquer tempo ou
ininterruptamente e, além disso, realizaria e satisfaria plenamente qualquer
pessoa ou ser mesmo considerando suas diferentes peculiaridades, esses dois
aspectos levaram os antigos cientistas a iniciarem suas pesquisas em seus
laboratórios mentais, uma vez que o mundo externo, o mundo material, não trazia
respostas definitivas.
Esses cientistas da mente
descobriram que a pergunta a ser feita não era “o que dá felicidade e paz? ”,
mas sim “o que é esse “eu” que sente paz e felicidade? ”.
Então, a procura para
entender o que é esse “eu” foi o início da busca pelo Dharma. Essa busca levou
os seres humanos a olharem para dentro de si, a conhecerem sua natureza, sua
identidade, e nessa busca desenvolveram o processo de meditação.
Dharma
Mas afinal o que é dharma?
O que é inerente ao conceito
de Dharma é o conceito de identidade e dentro deste o conceito de corpo, mente
e consciência.
Dharma significa a
característica intrínseca ou natureza de alguma coisa. Nosso dharma identifica
quem nós somos.
Então, qual é o dharma
humano, ou seja, o elemento caracterizador, aquilo que o diferencia de outros
seres?
O ser humano não se satisfaz
com coisa alguma, sempre há algum desejo não realizado ou não satisfeito; o
tempo todo está desenvolvendo novos anseios; não há objeto material ou fato que
realize e satisfaça todos os desejos criados em sua mente e que traga a sensação
de felicidade e paz permanente. Dizemos, então, que nossa mente está sempre em
expansão e que para cada realização ou satisfação, novos e mais novos
desejos e anseios são criados em nossa mente, estamos sempre querendo algo
mais, e melhor, e maior.
Na realidade o ser humano tem
uma sede infinita por felicidade ou realizações e satisfações, e por isso, muitas vezes experimenta um sentimento de frustração porque cada vez que a mente se expande ela recebe um objeto finito.
À vista disso, somente um objeto ou uma entidade infinita poderá satisfazer plenamente essa sede infinita, ou seja, o ser humano deverá consumar o Infinito, deverá abrigar em sua mente a Entidade Cósmica.
À vista disso, somente um objeto ou uma entidade infinita poderá satisfazer plenamente essa sede infinita, ou seja, o ser humano deverá consumar o Infinito, deverá abrigar em sua mente a Entidade Cósmica.
Portanto, dizemos que a
característica intrínseca ou dharma do ser humano é realizar o Infinito ou buscar a realização da Entidade Cósmica.
Dessa forma, quando o ser humano
compreender o fato de que a sua qualidade inata é o desejo pelo Infinito e, assim, começar a se mover em direção a essa realização é que poderá desfrutar da verdadeira
felicidade.
O que é o sentimento de “eu”?
Quando fechamos os olhos e olhamos
para dentro de nós, fazemos o processo de introspecção ou reflexão interna do “eu”.
O que é reflexão interna?
Quando fechamos os olhos e
pensamos: “eu sou Carlos”, “eu sou Larissa ”, vamos sentir alguma coisa quando
falamos isso. Se tentarmos explicar teremos dificuldades de explicar quem
realmente somos. Contudo, podemos dizer que é um sentimento que nos remete a
“eu tenho uma identidade”. Assim, reflexão interna tem a ver com o
reconhecimento de que temos uma identidade.
De fato, cada indivíduo tem
um sentimento de “eu”, ou melhor, um sentimento de “eu sou, eu existo”, esse
sentimento faz parte de nossa mente e também está ligado ao corpo e ao mundo
material.
Mente e Consciência
Bom, mas o que é nossa
mente?
Nossa mente é a composição
de três partes: “eu existo”, “eu faço” e a matéria-prima mental. Esta última é
aquilo que toma a forma na mente como resultado da ação de “eu faço”.
Por exemplo, quando a mente
vê um livro, com ajuda de nossos olhos, ela toma a forma de algo que chamamos
livro. Porém, essa figura não é a mesma imagem formada na retina, pois a mente
pode tomar a forma desse mesmo livro ainda com os olhos fechados. Então, aquilo
que toma a forma do livro em nossa mente é a matéria-prima mental.
Agora, a porção da mente que
toma a forma do livro só pode assumir essa forma se o “eu faço” determinar isso,
e nesse caso esse sentimento será expresso como “eu vejo”. Além disso, é com
ajuda dos nossos órgãos motores e nossos sentidos que a terceira parte da mente
entra em contato com o mundo externo e assume a forma do livro, embora pode
assumir essa forma através da memória.
Ademais, devemos reconhecer
também que toda ação se origina na mente e que se expressa externamente com
ajuda dos nossos órgãos motores e sensoriais.
Com efeito, se a mente não está
funcionando apropriadamente, mesmo quando os olhos estão aptos a ver, não podemos
enxergar o livro, é isso que acontece, por exemplo, quando estamos distraídos,
sob efeito de anestesia, de medicamentos ou drogas, etc. Portanto, é a mente que
realiza a ação de ver o livro e isso acontece com ajuda dos olhos, além disso,
a parte da mente que realiza a função de ver é “eu faço”.
Agora, esse “eu” não poderá
realizar nada, como acima, ver o livro, sem o “eu existo”.
Consideremos a seguinte
sentença como ilustração, eu sinto sede então bebo água. Vemos que primeiro
deve existir o sentimento “eu existo” para que possamos identificar o
sentimento “eu sinto sede”; “bebo água” vem do sentimento de “eu faço”, essa é
a parte da mente que realiza a ação, e por fim, a parte da mente que tomou a
forma da água antes de beber, depois assumiu sua forma enquanto bebia, sentiu o
odor e o contato da água no corpo, constitui a terceira parte da mente, ou
seja, a matéria-prima mental.
É importante salientar que
apesar das diferentes funções do “eu” elas são desempenhadas pelo mesmo “eu”.
Além disso, sabemos do fato de que há um sentimento de “eu existo” em nós, o que nos leva
a dizer, “eu sei do fato que eu existo”.
Então, esse “eu” de “eu
sei”, o sujeito da sentença “eu sei que existo” é a consciência individual ou átman.
O “eu” conhecedor, que testemunha nossa mente ou que testemunha a existência do
“eu” de “eu existo” é a consciência unitária ou espírito cuja natureza é a
busca pelo Infinito. A consciência unitária é diferente da mente.
Essa presença do “eu” de “eu
sei” é estabelecida pelo sentimento de existência que a pessoa manifesta, ou
presencia, em cada ação e durante a sucessão de cada ação.
Assim, pela diferença que há
entre o “eu existencial” e a consciência unitária somos levados a concluir que
não é possível existir sem essa consciência, pois é esta que nos tornam capazes
de testemunhar nossa própria existência!
A consciência sempre
permanece como entidade testemunhal e qualquer ação realizada pelo “eu” não tem
qualquer efeito sobre ela, ela permanece sempre como expectadora. Somente a
entidade com o sentimento de “eu” receberá os efeitos das ações, uma vez que
esse sentimento é a causa de todas as ações.
O sentimento, “eu sei que
existo”, que os seres humanos experimentam é bem mais claro e profundo do que o
sentimento de “eu” que os animais vivenciam. Por isso que dizemos que a
diferença entre os seres humanos e os animais está na percepção do sentimento
do próprio “eu”. O ser humano possui a consciência claramente refletida em seu
sentimento de “eu”.
Essa introspecção do
sentimento de “eu” varia de pessoa para pessoa.
Algumas pessoas quando fazem
introspecção experimentam apenas o próprio corpo. Elas não têm disposição para admitir a
existência da mente, quem dirá do espírito ou consciência. Já outras pessoas podem
admitir a existência da mente, da psique, mas vão discordar da existência do
espírito.
Todas estão expressando diferentes níveis de experiência de reflexão do sentimento de “eu”.
Todas estão expressando diferentes níveis de experiência de reflexão do sentimento de “eu”.
Agora, enquanto o sentimento
de “eu” está conectado à identidade individual, ou ainda, ao corpo e a mente, a
pessoa é diferente da sua consciência ou átman e essa pessoa com esse
sentimento de “eu” é apenas uma forma modificada ou assumida da consciência
unitária.
Por exemplo, Karla enquanto
atua numa peça de teatro como Dona Katarina, é chamada de Dona Katarina e não Karla.
Enquanto atua como Dona Katarina, Karla não assume sua personalidade verdadeira.
Ela é apenas uma personalidade assumida ou transformada e, enquanto atua, é
chamada de Dona Katarina e não Karla. Da mesma forma, enquanto o sentimento de
eu está conectado à identidade individual, a pessoa é diferente de seu átman e
essa pessoa com esse sentimento de “eu” é apenas uma forma modificada ou
assumida da consciência unitária.
Assim, se por algum processo
essa diferença entre a identidade, esse sentimento de “eu”, e a consciência
unitária desaparecer, então, a forma modificada ou assumida da consciência
unitária deixará de existir e ela realizará o estágio supremo, uma vez que a
consciência unitária é um múltiplo da Consciência Cósmica.
Assim, quanto mais clara é a
reflexão da consciência no sentimento de “eu” mais próximos estamos de realizar
o Infinito.
É assim que nosso dharma ou qualidade inata, que nada mais é que a busca pelo Infinito, se relaciona com nossa consciência, múltipla da Consciência Cósmica, e nosso sentimento de eu que nos desconecta da Entidade
Cósmica.
Conclusão:
Para compreender por que a
paz e a felicidade são tão efêmeras e mesmo quando realizamos ou satisfazemos
nossos anseios elas não permanecem, ou ainda, para compreender por que sempre estamos desejando
cada vez mais realizações, mais satisfações é necessário conhecer o que é o
“eu” que deseja, que está sempre ansiando por mais e mais.
A partir da investigação
concluímos que temos um desejo infinito por felicidade, paz, realizações e
satisfações e só uma entidade infinita pode satisfazer essa sede infinita.
Então, nossa característica intrínseca, nosso dharma, é alcançar ou realizar o
Infinito ou a Entidade Cósmica e assim tornarmos infinitamente satisfeitos e
realizados.
Além disso, é o nosso sentimento
de “eu” que nos distancia da realização suprema. Assim, quando nosso sentimento
de “eu” se dissolve, ou seja, quando nossa consciência unitária é plenamente
refletida em nosso sentimento de “eu” nós realizamos o Infinito, pois essa
consciência unitária nada mais é que um puro fragmento ou um múltiplo da Consciência Cósmica.
Expressando de outro maneira, quando nossa consciência, cuja natureza é a realização do Infinito, for completamente refletida em nosso sentimento de eu nossa mente se tornará uma com a Consciência Cósmica.
Expressando de outro maneira, quando nossa consciência, cuja natureza é a realização do Infinito, for completamente refletida em nosso sentimento de eu nossa mente se tornará uma com a Consciência Cósmica.
O processo que leva para a dissolução
do “eu” individual ou a reflexão total da consciência unitária em nosso sentimento de "eu" é a meditação. A meditação faz o “eu” individual imergir no Infinito, na Entidade Cósmica, esse é o motivo para meditarmos.
A meditação é um processo que faz desaparecer os sentimentos de individualidade e de fragmentação do ser, os quais o “eu” é
separado de um todo universal, e faz surgir o estado de
bem-aventurança na mente.
REFERÊNCIAS
1 - Anandamúrti, Shrii Shrii, Filosofia Elementar da Ananda Marga, 2 ed, Brasília, Ananda Marga, 2007
2 - Anandamúrti, Shrii Shrii, A Graça do Senhor Parte 2, Brasília, Ananda Marga, 2013
3 - Aulas online de ideologia da Ananda Marga com Kirit Deva, Corpo, Mente e Consciência, 2014/15 - aulas não publicadas.
1 - Anandamúrti, Shrii Shrii, Filosofia Elementar da Ananda Marga, 2 ed, Brasília, Ananda Marga, 2007
2 - Anandamúrti, Shrii Shrii, A Graça do Senhor Parte 2, Brasília, Ananda Marga, 2013
3 - Aulas online de ideologia da Ananda Marga com Kirit Deva, Corpo, Mente e Consciência, 2014/15 - aulas não publicadas.
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