Ética universal do Yoga: Yama e Niyama
Yama e Niyama constituem um conjunto de princípios éticos de aplicação universal, para todos os seres humanos. Foram desenvolvidos para fornecer uma base apropriada para o pleno desenvolvimento humano, até a realização completa da Consciência Cósmica. Eles proporcionam um equilíbrio mental necessário para as práticas espirituais e também para o próprio dia-a-dia.
O Senhor Buddha disse: “Vença a falsidade com a verdade, vença a mesquinhez com a generosidade, vença a raiva pela ausência de raiva.” A coisa inteligente para você fazer seria nunca ficar com raiva. Seja moral em meio à imoralidade e à falsidade. Se você tem essa habilidade, você irá triunfar em qualquer batalha. Você irá manter-se inatacável.
Para ter sucesso completo na vida, a pessoa tem que ter equilíbrio mental. Não deve haver nenhum complexo na mente -- nem de superioridade, nem de inferioridade. Agora, para atingir esse equilíbrio mental, você deveria comportar-se com cada ser humano de tal forma, que esse complexo superioridade ou de inferioridade não surja nem em você, nem naquelas pessoas com as quais você lida. Essa mente equilibrada será capaz de se mover em direção à Consciência Suprema.
São 10 princípios, divididos em duas partes, cada uma com 5 princípios. A prática desses princípios tem que ser feita com exercício de discernimento e com sensibilidade às circunstâncias, pois os princípios não estabelecem nenhum comportamento rígido. Isto é um ponto fundamental na diferença entre moralidade espiritual e moralidade simples – esta segunda implicando em seguir-se preceitos morais de forma rígida.
Os princípios de Yama são:
• Ahiḿsá significa não ter a intenção de causar sofrimento a qualquer criatura através de pensamento, palavra ou ato. Às vezes este princípio é mal-interpretado como significando “não-violência”, mas para mantermos nossa existência inevitavelmente acarretamos a morte de outros seres. Hiḿsá significa ter a intenção de causar dor ou sofrimento, e este princípio de Ahiḿsá é o oposto disso.
• Satya denota a ação da mente ou o uso de palavras com o objetivo de ajudar outros em sentido real. É diferente da verdade rígida, estrita, quando pensada ou dita sem intenção benevolente. Também pode implicar falar algo que não corresponde à verdade estrita, mas tendo-se o propósito de evitar um efeito nocivo da verdade rígida.
• Asteya significa não roubar, e isto não deveria estar confinado à ação física, mas ser estentedido à ação da mente também. Todas as ações têm origem na mente, portanto o sentido correto de asteya é “abandonar o desejo de adquirir aquilo que não pertence com direito à pessoa”. Também significa não permitir que outras pessoas ou seres sejam privados daquilo que lhes é de direito.
• Aparigraha envolve não aceitar as amenidades e confortos que são supérfluos para a preservação da existência física. Não significa a renúncia material, ou deixar de utilizar os recursos que sejam necessários para nossas atividades benevolentes.
• Brahmacarya significa experimentar a presença e autoridade de Brahma [significa “Entidade Suprema”] em toda e cada objetividade física e psíquica. Isto ocorre quando a mente unitária ressoa com o desejo Cósmico. Podemos praticar isso lembrando que a Consciência Suprema permeia cada ser e acontecimento deste universo, e que tudo o que acontece é, em última instância, uma expressão dessa Consciência Suprema, e uma parte do seu fluxo cósmico.
Os princípios de Niyama são:
• Shaoca significa a pureza tanto do corpo físico quanto do mental. A pureza mental é alcançada através de feitos benevolentes, caridade e outros atos obsequiosos. O cultivo de boas companhias, e de bons pensamentos, também são relevantes.
• Santośa significa “contentamento”. Isto implica aceitar sem mesquinhez e sem reclamação o resultado dos serviços prestados pelo nosso próprio trabalho físico ou mental. Pois podemos ter certo controle sobre nossas decisões e ações, mas não sobre os resultados de nossas ações.
• Tapah significa esforços para alcançar o objetivo, mesmo que tais esforços estejam associados com desconfortos físicos. Implica serviço altruísta para os seres humanos (serviço físico, psíquico e espiritual), para as demais criaturas e para a Consciência Suprema.
• Svádhyáya significa o estudo das escrituras ou de outros livros de aprendizado, e a assimilação do espírito dos mesmos. Significa especialmente a leitura de material que explica sobre a filosofia espiritual, e sua compreensão.
• Iishvara prańidhána é uma auto-sugestão da idéia de que toda e cada unidade é um instrumento nas mãos do Todo-Poderoso, e é uma mera fagulha desse fogo supremo. Iishvara prańidhána também implica a fé implícita Nele, independentemente de se estar no momento vivendo em felicidade ou tristeza, prosperidade ou adversidade. Essa auto-sugestão é feita, em especial, através da prática da meditação introspectiva, buscando nossa identificação com o Controlador Cósmico (Iishvara).
Yama e Niyama: as duas armas mais importantes dos sádhakas (aspirantes espirituais)
O primeiro estágio da sádhaná [prática espiritual] é Yama e Niyama (observâncias morais estritas), o fundamento da vida espiritual, a luz que dissipa a escuridão da ignorância estática. Ao aperfeiçoarem os dez princípios de Yama e Niyama, os aspirantes espirituais [sádhakas] adquirem o vigor espiritual requerido para travarem uma guerra constante contra o torpor da estaticidade. A luta deles é valente e sem tréguas, contra os obstáculos criados por avidyámáyá [a força da extroversão], que tenta tirá-los do caminho da realização de Brahma [Entidade Suprema], o seu objetivo supremo, o seu desideratum final, a sua estrela-guia, o único ideal de suas vidas. Na esfera social, eles não batalham para reformar a sociedade pelo propósito de reforma, mas para combater os defeitos e inconsistências em todos os passos da vida que são prejudiciais para a vida espiritual, e que constituem pedras de tropeço no caminho da realização da meta suprema. Em resumo, eles buscam construir uma sociedade espiritual equilibrada e harmoniosa. O esforço deles, de remover os espinhos espalhados ao longo do caminho do progresso, é incessante.
Usualmente, aquelas pessoas cujo único objetivo é realizar reformas sociais, intelectuais e econômicas, colapsam exaustas após alcançarem um certo grau de sucesso, e então desistem ou ficam confusas. Mas isto não acontece com sádhakas, porque o principal foco deles não é a batalha, mas como atingir a meta. Portanto, eles travam uma batalha infindável contra todos os tipos de defeitos e distorções com as suas duas armas mais importantes: Yama e Niyama. Todos os sádhakas são soldados cujas rações são o conhecimento, cuja bebida é a ação, e cujo sal é a devoção.
Forma e Sem-forma. Shrii Shrii Anandamurti.
DharmaMahaChakra (DMC) de Caetra Púrńimá, 1957, Nathnagar, Bhagalpur, Índia.
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